Rádio Líder FM de Acopiara

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

Um berçário improvável

Estrelas
estrelas se formam em nuvens densas de gás misturado com poeira. As nuvens, não à toa chamadas de nuvens moleculares gigantes, acabam dando origem a alguns milhares de estrelas de uma só vez. É possível ainda que um nuvem tenha matéria suficiente para gerar uma segunda e até terceira geração de estrelas, mas o fato é que uma vez formadas, as estrelas acabam varrendo para longe todo o material que sobrou. Quando o gás se dissipa, sobram as estrelas em aglomerados como as Plêiades, com estrelas jovens que um dia irão desfazer o conjunto, pois elas estão em constante movimento de afastamento umas das outras. Esse processo é contínuo em galáxias espirais, como a Via Láctea, que possui muito gás disponível para isso.
Mas também existe um outro tipo de aglomerado, os aglomerados globulares. Se os aglomerados abertos são compostos por estrelas jovens que estão se afastando, os aglomerados globulares são compostos por estrelas velhas e frias que permanecem aglutinadas para o resto da vida. Enquanto os aglomerados abertos possuem escalas de vida de algumas centenas de milhões de anos, os aglomerados globulares têm vários bilhões de anos de idade, alguns com idades compatíveis com o próprio universo, quase 14 bilhões de anos! Isso significa que as estrelas desses aglomerados, que chegam a ser enxames de milhões delas, se formaram junto com a Galáxia, e tiveram tempo suficiente para dissipar o material que as formou. De tão compactos que são os aglomerados globulares, eles eram frequentemente confundidos com cometas, nos primórdios da astronomia observacional e isso motivou Charles Messier a compilar um catálogo de aglomerados e nebulosas para que ninguém mais se confundisse.
Então o que se sabe sobre esse tipo de aglomerado é que eles são verdadeiros fósseis da formação da Galáxia, se formaram de uma só vez há uns 10 bilhões de anos atrás e se mantêm coesos com milhões de outras irmãs. Mas já não é de hoje que alguns astrônomos que se dedicam a observar esse tipo de objeto, encontraram algo estranho no enxame: uma dispersão nas idades das estrelas.
Trocando em miúdos, dispersão nas idades significa que as idades das estrelas nos aglomerados não são tão homogêneas assim, várias delas eram mais jovens do que a maioria. Isso significa que nem todas se formaram ao mesmo tempo, como se pensava desde sempre. De alguma maneira foi possível formar uma, ou algumas gerações de estrelas posteriormente à formação do aglomerado em si. Mas como isso seria possível, se as estrelas mais idosas tiveram algo como 10 bilhões de anos para dissipar o gás que as formou?
A resposta veio ontem.
Um grupo liderado por pesquisadores do Instituo Kavli de Astronomia e Astrofísica de Beijing, na China, usou o telescópio espacial Hubble para estudar 3 aglomerados globulares que orbitam as Nuvens de Magalhães, as duas galáxias satélites da nossa Via Láctea. Em um dos alvos, NGC 1783, além da população mais antiga de estrelas, que têm 1,4 bilhões de anos de idade, os pesquisadores encontraram mais duas populações de estrelas mais jovens, uma com 890 milhões e outra com 450 milhões de anos de idade!
A ideia apresentada é que os aglomerados capturaram essas estrelas mais jovens durante seus passeios pelo espaço. Os aglomerados globulares são como enxames de abelhas e ‘voam’ em conjunto ao redor da sua galáxia hospedeira. Durante essas órbitas, os aglomerados podem atravessar sua galáxia e nesses momentos podem capturar estrelas mais jovens. Capturar estrelas assim é um evento pouco provável de acontecer, mas como o espaço interestelar tem gás, especialmente nos braços da galáxia que tem bastante, é muito mais provável que os aglomerados globulares capturem gás que depois vai formar estrelas. No caso de NGC 1783, que orbita a Grande Nuvem de Magalhães, a existência de dois conjuntos mais jovens indica que esse evento de captura de estrelas e/ou gás ocorreu pelo menos duas vezes já.
O estudo foi publicado na revista "Nature", dada a importância e o impacto desse resultado, pois esse mistério de estrelas mais jovens em aglomerados globulares já perdurava uns 50 anos pelo menos!

g1

Nenhum comentário:

Postar um comentário