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terça-feira, 13 de outubro de 2015

A grande jogada do garoto dono da bola

Talvez não exista um estudo com dados precisos, mas, se houvesse, as estatísticas comprovariam: quase todos os meninos já quiseram ser jogador de futebol. Entre eles, havia o João, que, por realizar o sonho de criança, ficou conhecido pelo sobrenome: Mota. Naquele tempo em que o querer era grande, não dava para saber se daria certo mesmo. “Era tanta criança querendo”. Em alguns, o sonho foi se esvaindo com os anos. Para ele, o racha virou coisa séria. 
Nascido com a bola no pé, como diz, Mota cresceu de frente para o estádio. Todo dia estava lá no Antony Costa, estádio do bairro Antônio Bezerra, “brincando de bola”. E, se não fosse lá, falta de espaço não era problema. Essa é a vantagem do futebol: em qualquer canto se joga. A calçada ou o asfalto. A quadra do colégio ou o terreno da esquina. Contanto que não deixasse de fazer as tarefas de casa - obrigação que os pais colocavam - o sonho de ser jogador continuava. “Na infância, era estudos e bola. tinha que dividir igual”.
De tanto dividir o sonho com o estudo, o adolescente quase desistiu do que a criança queria. “Se eu passasse no vestibular, não teria seguido a carreira de jogador”. A tentativa de ser engenheiro mecânico não deu certo, e ele resolveu que o primeiro desejo era o destino. Com 17 anos, começou a realizar o que o menino fã dos gols de Romário na Copa do Mundo de 1994 mais almejava. Era 1998, e, pela primeira de três vezes, realizou um sonho dentro do sonho: era jogador do Ceará Sporting Club. 
Como o caminho que a vida traça pode, nem sempre, ser igual ao que a mente desenha, ele teve de se despedir do time do coração. Dispensado do Alvinegro, realizou mais que o que tinha sonhado. 
“Foi muito mais além”. Nascido no Antônio Bezerra, ele se viu jogando futebol na Espanha. “A gente sonha em jogar aqui, mas, de repente, eu estava lá do outro lado, na Europa. Na época, eu não tinha nem noção de onde era”. Dois anos e meio depois, voltou para casa e para o time que torce para começar a escrever história. 
“É difícil de explicar”, ele diz sobre o sentimento de trabalhar no time que torce. “Eu representava a torcida do Ceará como um torcedor dentro do campo. É uma responsabilidade”. Dono de títulos e carreira internacional, o tempo mais feliz de Mota foi na própria terra. “Aqui é diferente. Conseguir títulos pela equipe que você torce é acima de qualquer coisa”. 
Vindo da criança que jogava nas ruas do bairro, Mota conta que se repetia, no campo, o prazer de estar com a bola. E é diferente. 
Antes, o futebol era só brincadeira. Adulto, futebol se tornou responsabilidade. “Não é como na época de criança, que a gente entrava, não alongava, não aquecia, nem nada. A gente só entrava no campo e corria atrás da bola”. Às vezes, ser adulto é mais chato, mas isso não significa ser menos feliz. Ser realizado na profissão que escolheu, ele vê, é fazer o menino de décadas atrás ainda mais realizado. 
Sem atuar profissionalmente, Mota é garoto aos 34 anos. “Eu voltei a ser criança, a brincar com a bola, sem a pressão e a responsabilidade de fazer um resultado, de fazer gol, de vencer”. Já faz um tempo que o sonho não é só um sonho. Hoje, Mota usa muito a palavra “realizado”. É a que traduz melhor como ele se sente. Assim como, um dia, se inspirou em ídolos, ele agora cultiva inspirações. “É prazeroso estar num lugar e uma criança dizer que é seu fã”. Os sonhos fazem ciclos: olhando para ele (e muitos outros), mais meninos vão sonhar com o futebol. Serão jogadores, pelo menos em fantasia. 

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