Crise hídrica em São Paulo já gerou mais de 50 ações e inquéritos no MP.
Isabela Leite
Do G1 São Paulo
A
crise hídrica no estado de São Paulo já gerou mais de 50 inquéritos civis no
Ministério Público (MP) e ações civis públicas protocoladas pelos promotores na
Justiça por causa da falta d'água e problemas enfrentados pela população em
decorrência da seca. Alguns casos também são acompanhados pelo Ministério
Público Federal (MPF). Até o momento, a maior parte dos processos está em
andamento ou resultou em Termo de Ajustamento de Conduta (TAC).
Desde fevereiro de 2014, o MP instaurou ao
menos 48 inquéritos sobre o assunto, a maioria por falta de transparência nas
informações sobre a crise. A Promotoria também apura denúncias e reclamações
sobre cortes no abastecimento, desperdício, má qualidade da água, falhas no
serviço prestado ao consumidor, improbidade e impacto ambiental de obras.
As
investigações dos promotores resultaram em nove ações civis públicas na Justiça
desde o começo do ano passado, a maior parte delas com enfoque na falta d'água
em diferentes cidades do estado, além de ausência de transparência na
divulgação sobre a situação da seca e desrespeito ao direito do consumidor.
Uma das ações do MP aceita pela Justiça, por
exemplo, obrigou a Sabesp divulgar um novo índice dos reservatórios do
Cantareira, considerando o cálculo das duas cotas da reserva técnica do
manancial exploradas desde o ano passado e o volume "negativo" com
que o sistema opera.
A
Promotoria também quer
interromper a obra de interligação dos sistemas Rio Grande e Alto Tietê,
considerada a principal ação contra a crise hídrica na Grande São Paulo. O MP
contestou na Justiça as licenças ambientais obtidas pela Sabesp e disse que os
documentos apresentados pela companhia são insuficientes para comprovar que não
há risco ambiental.
Neste
caso, o juiz da 3ª Vara Pública Luiz Manuel Pires não aceitou o primeiro pedido
do MP para suspensão da obra em caráter liminar, mas pediu explicações à
Sabesp. Depois do posicionamento da companhia, e caso a Promotoria mantenha a
necessidade de suspensão dos trabalhos, a Justiça voltará a analisar o pedido.
Desde março, o Ministério Público publica na sua página na internet um relatório sobre os inquéritos civis
em andamento e as ações civis públicas ajuizadas divididas nos seguintes temas:
falta d'água, serviços prestados ao consumidor, transparência de informação,
patrimônio público e qualidade da água. No site
do MP, também é possível consultar as recomendações enviadas aos órgãos
gestores competentes pelo abastecimento.
Audiência pública
Para ouvir relatos sobre os problemas enfrentados pela população durante a crise e reunir provas, o Ministério Público Federal (MPF), além do Ministério Público, o Ministério Público de Contas, o Ministério Público do Trabalho e a Defensoria Pública, todos a nível estadual, farão uma audiência pública na quinta (20) e sexta-feira (21), na sede do MP-SP.
Segundo a procuradora regional da República da 3ª Região
Sandra Akemi Shimada Kishi, que também coordenada o Projeto Qualidade da Água
do MPF, a falta de transparência sobre a crise potencializa o aumento da
insegurança e impede o controle social.
Os órgãos querem saber
como a sociedade tem enfrentado seguintes problemas como a falta de água,
esgoto e saneamento básico, a adoção das sobretaxas, a ausência de transparência
e informações sobre a crise, aplicação de rodízio "informal",
racionamento implícito e redução da pressão nas regiões mais carentes do
estado, e dificuldade de acesso ao monitoramento da qualidade de água.
A audiência pública terá a participação de importantes
especialistas em recursos hídricos no Brasil e no exterior, como o professor da
Universidade de Massachusetts Richard Palmer, o geógrafo da Unicamp Antônio
Carlos Zuffo, o pesquisador da USP e especialista em reúso Ivanildo Hespanhol, a
médica do Centro de Vigilância Epidemiológica de São Paulo Telma Nery, e o
presidente do Instituto Brasileiro de Proteção Ambiental Carlos Bocuhy.
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